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domingo, 14 de outubro de 2012

O cavalo morto


Cecília Meireles


Vi a névoa da madrugada
deslizar seus gestos de prata,
mover densidades de opala
naquele pórtico de sono.

Na fronteira havia um cavalo morto.

Grãos de cristal rolavam pelo
seu flanco nítido; e algum vento
torcia-lhes as crinas, pequeno,
leve arabesco, triste adorno,

- e movia a cauda ao cavalo morto.

As estrelas ainda viviam
e ainda não eram nascidas
ah ! as flores daquele dia ...
- mas era um canteiro o seu corpo:

um jardim de lírios, o cavalo morto.

Muitos viajantes contemplaram
a fluida música, a orvalhada
das grandes moscas de esmeralda
chegando em rumoroso jorro.

Adernava triste, o cavalo morto.

E viam-se uns cavalos vivos,
altos como esbeltos navios,
galopando nos ares finos,
com felizes perfis de sonho.

Branco e verde via-se o cavalo morto,

no campo enorme e sem recurso,
- e devagar girava o mundo
entre as suas pestanas, turvo
como em luas de espelho roxo.

Dava sol nos dentes do cavalo morto.

Mas todos tinham muita pressa,
e não sentiram como a terra
procurava, de légua em légua,
o ágil, o imenso, o etéreo sopro
que faltava àquele arcabouço.

Tão pesado, o peito do cavalo morto !

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A primeira carta ao desatento

Estou na mira do veneno do escorpião
estou cativo em minha eterna prisão
onde minha vaga aura só vai ao púrpura
e a inocência de meu amor já não é tão pura

estou sob a mira da faca ensanguentada
cujo brilho estupra minhas pupilas dilatadas
agora minha idéia é podada e vaga
vaga solta, mas não livre pelo céu da plaga

estou encoberto pelas mãos do gigante
que insiste tentar a minha idéia fanar
em sua visão sebosa, um grande arrogante

em tempos adentra meu templo a profanar
com seus estúpidos insultos, gritantes
e por sua causa minha idéia nunca devo abandonar

Erick Silva

sábado, 6 de outubro de 2012

Noite de aventura

Somos 5 no preto
Rodando pelas ruas,
Da cidade sem nome
Somos 5 no preto
E agora a aventura,
Nos consome
Um na vermelha veio nos afrontar
Ora pois, tivemos que parar
Foi quando com um simples torção
O amigo amarelo tomou conta da situação

Agora a noite nos fornece seu mais célebre momento
Onde a coisa rola solta para a mão do sedento

E nesse momento pensando no passado,
que foi divertido e complicado, vejo um monte de cores,
se unindo e se dando bem
e se alguém que nos vê pensar errado
não são cores, são formas, algumas da noite também...

Erick Silva