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domingo, 23 de março de 2014

Morte, Juízo, Inferno e Paraíso

Em que estado, meu bem, por ti me vejo, 
Em que estado infeliz, penoso e duro!
Delido o coração de um fogo impuro,
Meus pesados grilhões adoro e beijo.

Quando te logro mais, mais te desejo;
Quando te encontro mais, mais te procuro;
Quando mo juras mais, menos seguro
Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.

Assim passo, assim vivo, assim meus fados
Me desarreigam d'alma a paz e o riso,
Sendo só meu sustento os meus cuidados;

E, de todo apagada a luz do siso,
Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados
Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.

Bocage, in 'Sonetos'



quarta-feira, 19 de março de 2014

Mas Há a Vida

"Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.

Que tem que ser vivido
até a ultima gota.
Sem nenhum medo.
Não mata."

Clarice Lispector

terça-feira, 4 de março de 2014

Via de transmissão

Sufoca teu ego no ópio da alma
para que se tenha um espasmo de calma
que é deus que lhe causa usura
tanto mais a quem o coloque em tal altura

A tua lei é um laço de forca
a tua lei é um braço de força
teu ensino é treinamento de escravo
teu ensino é da injuria o agravo

Conjura sobre si tuas palavras mágicas
encena teu teatro, ensina suas táticas
porque és tu sagrado e a obra divina
e penetras a mente como morfina

Não irá perverter-me com teu ópio
não me vencerá nesse argumento ébrio
então cala a cabala e segue sem cessar
segue sego para o "fim" do meu pesar

Sego não guia caolho em terra que saber é rei
então segue e engula sozinho a hierarquia da tua lei