Visualizações de página do mês passado

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Minha Alva

Meus olhos já negros, profundos. Órbitas ocas, buracos imundos. Já foram algo belo além das cavidades que hoje são, um belo castanho que olhava com desdém e depreciação. Certas vezes cheios de malícia, com um brilho indistinto, ganho da erva, hortaliça. Certas vezes, ah! E foram quantas vezes? As que chorei, as que menti para que apenas um beijo doce pudesse ganhar de ti? E hoje depois da necrosa, da terra e do verme tenho a face lisa e fabulosa, branca e com um intérmino sorriso de dentes amarelos que já não mais preciso. Mitiguei as dores do mundo, todas dentro de mim por um único segundo, antes que a eterna noite caísse, e quando a verdade de tudo a mim veio, antes que saísse, a eterna noite sobre mim abriu teu seio para que a verdade se omitisse.

Erick Silva.

sábado, 17 de novembro de 2012

Chanson de la Plus Haute Tour

Oisive jeunesse
À tout asservie;
Par délicatesse
J' ai perdu ma vie.
Ah! Que le temps vienne
Où les coeurs s' éprennent.

Je me suis dit: laisse,
Et qu' on ne te voi:
Et sans la promesse
De plus hautes joies.
Que rien ne t' arrête
Auguste retraite.

J' ai tant fait patience
Qu' a jamais j' oublie;
Craintes et souffrances
Aux cieux sont parties.
Et la soif malsaine
Obscurcit mes veines.

Ainsi la Prairie
À l' oubli livrée,
Grandie, et fleurie
D' encens et d' ivraies
Au bourdon farouche
De cent sales mouches.

Ah! Mille veuvages
De la si pauvre âme
Qui n' a que l' image
De la Notre-Dame!
Est-ce que l' on prie
La Vierge Marie?

Oisive jeunesse
À tout asservie
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie.
Ah! Que le temps vienne
Où les coeurs s' éprennent!


Canção da Torre Mais Alta

Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah!Que venha a hora
Que as almas enamora.

Eu disse a mim: cessa,
Que eu não te veja:
Nenhuma promessa
De rara beleza.
E vá sem martírio
Ao doce exílio.

Foi tão longa a espera
Que eu não olvido.
O terror, fera,
Aos céus dedico.
E uma sede estranha
Corrói-me as entranhas.

Assim os Prados
Vastos, floridos
De mirra e nardo
Vão esquecidos
Na viagem tosca
De cem feias moscas.

Ah! A viuvagem
Sem quem as ame
Só têm a imagem
Da Notre-Dame!
Será a prece pia
À Virgem Maria?

Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida. Ah!
Que venha a hora
Que as almas enamora!

ARTHUR RIMBAUD

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Primeira carta ao domador do tempo

Jaz aqui o tempo de outrora
Esse momento, já não é mais agora
Fica suspenso no ponteiro dos segundos
No fugaz suspiro de um instante mudo

Eu sou o ontem, e hoje sendo,
Mas amanhã serei?
Que provas terei?
Chronos continua ainda me vencendo

Puseram na lápide de meu jazigo
Sentimentos que o hoje não me permite ter
Mas antes no momento que pude nada primei ser
E em meu póstumo momento divido contigo

Antes que o sono fúnebre venha te abraçar
No ponteiro dos segundos balance-se
Disse um profeta que para tudo há um tempo
Mas com isso só não me contento

Estando aqui a questão
Então porque não?
Nem é tão difícil de resolver
Para cada momento basta querer

Erick Silva.


Dedico essa poesia a amiga Rafaella Pereira da cidade de Portalegre-RN que logo mais no dia 15 de novembro estará completando 20 aninhos. Que você ganhe mais sabedoria nesse novo ano que você agora tem pela frente, e seja sempre assim, simpática, alegre e extrovertida. Um beijão!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Soá Como Adeus

Hoje eu matei o amor, arranquei as pétalas da flor e o colibri jamais virá seu néctar beber novamente, eu destruí a semente, as possibilidades de uma nova realidade, uma nova identidade. Agora a lama está sujando minhas botas, minhas calças, minhas mãos. Sangue é lágrima, lágrima é dor, dor do sentimento que acompanha cada batimento do sagrado coração, do apaixonado, agora dilacerado, por palavras destruído, agora entregue ao ruido dos pensamentos do passado. Hoje eu matei o amor, amor que devia ser amado.

Erick Silva.

domingo, 4 de novembro de 2012

Ser diferente


Ser diferente é triste, é ser sozinho, é ser um estranho no ninho, os gametas que me formaram foram fragmentos de estrelas perdidas que vagam infinitamente no espaço atravessando ignorância, aversão, violência, credo, corrupção. E no ápice de tudo isso como uma masturbação cujo gozo transcendente é como que regurgitar de volta tudo aquilo que me foi mostrado. De forma febril toda essa angustia que se vê claramente circulando cegos pelas avenidas, ver como se sentem grandes quando não passam de formigas e não se reconhecem nem mesmo em frente ao espelho que a alma lhes impõe, é triste ser diferente, é ser sozinho, é como ser um estranho no ninho. Passar pelo grande poço de desejos e dele não se deliciar é ser hipócrita, mas deixa-lo se apossar de minha alma é ser tolo, ser corrompido pela lascívia de poucos devaneios que entorpecem a percepção de desgraça que corrompe os corações e viver um reflexo de uma pintura inconsistente que muda sua forma por conveniências unilaterais. Ser diferente é triste, é ser sozinho, é ser um estranho no ninho, é como ser um menino ou um velhinho onde o ser é não ser, pois o ser já não vive, convive com a torpe trupe de patetas engomados enquadrados. Que ‘deus’ os abençoe. Por que para mim, ser diferente é triste, é ser sozinho, é ser um estranho no ninho.

Erick Silva


Lamentos da Alma


Nada estava perfeito, nem mesmo as estrelas sustentadas pelas plumas dos querubins, nem mesmo a lua cintilante que resplandecia por sobre o monte, nada estava no lugar, nem deveria estar... Sob meus pés as folhas secas estalavam ruidosamente enquanto meu corpo principia a queda. As lágrimas; o grito; A saudade: do abraço, do beijo. Já louco de desejo. Nunca meus demônios pareceram tão gentis, tão afáveis, tão febris que meu amargo virou doce e de minha boca todas as belas e pequenas aves vinham beber... Meu peito inflado fulgurava um coração cheio de brilho que batia desequilibrado: um relógio, um pêndulo descompassado. O farfalhar de meus pensamentos, sensíveis, doídos, psicodélicos giravam em torno de mim tão claramente que eu podia vê-los falar comigo num turbilhão de lamentos descontentes, muitas aves com seu bico ainda melado da seiva doce que lhes dei tentavam me salvar, o que elas não sabiam é que era ali que eu queria estar, a borda do abismo suplica minha companhia, e ele deseja que conversemos, eu o ofereço minhas dores, e ele a mim sua profundidade... Para que não me perca no desejo de cair, nessa conversa me preservo, e dele escondo os desejos de meu coração, me afasto e olho novamente as estrelas, percebo mais uma vez que nada está perfeito, nem deveria estar, não se eu não te encontrar.

Erick Silva

domingo, 14 de outubro de 2012

O cavalo morto


Cecília Meireles


Vi a névoa da madrugada
deslizar seus gestos de prata,
mover densidades de opala
naquele pórtico de sono.

Na fronteira havia um cavalo morto.

Grãos de cristal rolavam pelo
seu flanco nítido; e algum vento
torcia-lhes as crinas, pequeno,
leve arabesco, triste adorno,

- e movia a cauda ao cavalo morto.

As estrelas ainda viviam
e ainda não eram nascidas
ah ! as flores daquele dia ...
- mas era um canteiro o seu corpo:

um jardim de lírios, o cavalo morto.

Muitos viajantes contemplaram
a fluida música, a orvalhada
das grandes moscas de esmeralda
chegando em rumoroso jorro.

Adernava triste, o cavalo morto.

E viam-se uns cavalos vivos,
altos como esbeltos navios,
galopando nos ares finos,
com felizes perfis de sonho.

Branco e verde via-se o cavalo morto,

no campo enorme e sem recurso,
- e devagar girava o mundo
entre as suas pestanas, turvo
como em luas de espelho roxo.

Dava sol nos dentes do cavalo morto.

Mas todos tinham muita pressa,
e não sentiram como a terra
procurava, de légua em légua,
o ágil, o imenso, o etéreo sopro
que faltava àquele arcabouço.

Tão pesado, o peito do cavalo morto !

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A primeira carta ao desatento

Estou na mira do veneno do escorpião
estou cativo em minha eterna prisão
onde minha vaga aura só vai ao púrpura
e a inocência de meu amor já não é tão pura

estou sob a mira da faca ensanguentada
cujo brilho estupra minhas pupilas dilatadas
agora minha idéia é podada e vaga
vaga solta, mas não livre pelo céu da plaga

estou encoberto pelas mãos do gigante
que insiste tentar a minha idéia fanar
em sua visão sebosa, um grande arrogante

em tempos adentra meu templo a profanar
com seus estúpidos insultos, gritantes
e por sua causa minha idéia nunca devo abandonar

Erick Silva

sábado, 6 de outubro de 2012

Noite de aventura

Somos 5 no preto
Rodando pelas ruas,
Da cidade sem nome
Somos 5 no preto
E agora a aventura,
Nos consome
Um na vermelha veio nos afrontar
Ora pois, tivemos que parar
Foi quando com um simples torção
O amigo amarelo tomou conta da situação

Agora a noite nos fornece seu mais célebre momento
Onde a coisa rola solta para a mão do sedento

E nesse momento pensando no passado,
que foi divertido e complicado, vejo um monte de cores,
se unindo e se dando bem
e se alguém que nos vê pensar errado
não são cores, são formas, algumas da noite também...

Erick Silva

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A Phoenix do vale






A Phoenix do vale
 
O que carrego em alta estima foi transformado em cinzas
As chamas desfiguram as linhas definidas quando crepitam
Queimam e ardem com o impacto de palavras concisas
Sobre cada lamento de vida as línguas de fogo se precipitam

Nada sobra por onde passa o senhor das chamas ardendo
Nem mesmo meus mais íntimos segredos lhe escapam
Meus pássaros que voavam em meio ar foram aos poucos descendo
De suas penas nada restou e seus cantos melodiosos cessaram

E depois do fogo passado as cinzas dançam ao sabor do vento
E um silvo louco ecoa persistente declamando lamentos
Durante a tarde purpura cheia de carvão espalhado no chão

Agora é hora de sair do punhado de cinzas contido na grade mão
É hora de bater as asas de volta rumo ao céu noturno
E romper o silencio imposto pelas sombras do vale taciturno

Erick Silva

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

De um passado



E teu eu a minha vida, e você a tua,
Éramos dois vivendo um tudo ou nada,
à sombra do que nos mata,
E à sorte do que nos cura.
A felicidade nos acompanhava
Mas também havia a noite escura.

Era eu, era você, éramos dois.
Separados pela vida que nos guia,
Repartidos sem saber bem que depois
De um hoje sempre existe um novo dia,
E que diferentemente do que foi
Tão igual o reencontro nos unia.

Não havia razão pra te ter do lado
Mas havia um sentimento adormecido,
Motivado por lembranças do passado,
Por saber que já me tinha pertencido,
Me fez ver que não queria separado
Um nós dois que ao amor se fez sentido.

E então o que passou se fez presente,
Atormentando um sentimento que nos deixa,
Nos permite ser igual e diferente,
Bem melhor e bem pior do que se aceita,
Alimentando uma paixão inconseqüente
De uma visão irracional que não se queixa.

Não há mais o que pensar, não dá pra ver,
O que nos espera o amanhã, se há um nós,
Se o presente já nos fará perceber
Que o passado quis que ficássemos sós,
Ou se brincando o destino faz saber
Que o futuro unirá nossos lençóis.


                                                   Talita Maciel

sábado, 15 de setembro de 2012

A Orquídea negra

Quero ver o sangue escorrer pelo ódio de delírio vindo do imperfeito amor
quero ver na rubra cor o lamento das pobres almas inocentes e clamor
quero ver verter gota a gota nas lágrimas de uma garota rouca
quero ver os gritos e lamúrias aos soluços nascerem em sua boca

Cada fio do seu cabelo negro descontente
pela caça abatida na calçada. entrementes
tudo ao seu redor torna-se vermelho para sempre
suas mãos trêmulas seguram a pendente

Seus lamentos não encontram o céu
foi quando parou e pôs sobre sua face o vel
em sua boca agora amarga com sabor de fel

todos os seus beijos, suas carícias, seu amor
agora se agregam num incrível torpor
Num céu sem deus, sem fim, sem cor

Erick Silva

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

VERBO SER

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

Carlos Drummond de Andrade

Viagem

Já é tarde, mas não tão tarde



Já está muito tarde, mas não é tão tarde assim



O quão tarde será?



É tarde a tarde



Mas a tarde acaba



A tarde acaba e dorme



A noite chega



É à noite que as coisa acontecem

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Nádegas

Nádegas
Por que gostar tanto?
Como que fitar o nada
Distraído e tonto

Que do corpo mais me chama
As belas ancas Infladas
Me crispa em chamas
Minhas órbitas estagnadas

Perdido em meio a teus vales
Na dança de teus passos
Antecedo o momento que em minha mão resvale
Deleitando-me de todos os traços

Então de vez sucumbo escasso
Com as sementes todas entre os dedos e vazam da mão
Não plantadas, fadadas ao fracasso
No ápice de sua ruina direto ao chão

                                          Erick Silva

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Diálogo

Erick Silva

Mas você também sabe o que penso
mesmo assim é rijo e tenso
o momento da conversa sensata
dilui-se como aluvião em correnteza à cascata
não quero mais ter momentos ruins
apenas que você entenda meus afins
Não quero mais julgamentos precipitados
nem que fiquemos apartados
como já proposto através de votos
aos quais devemos ser devotos
que estejamos em plena comunhão
no romance de nossa união
para que feliz e duradouro seja
não breve como algo que se despeja

Então minha bela amada
me dá teu apoio, não seja mimada
lute comigo, pega teu escudo e espada
e vaguemos juntos por toda a madrugada
Onde seremos plenamente
felizes eternamente.

My Love Is Like A Red Red Rose

0, my luve is like a red, red rose,
that's newly sprung in June.
0, my love is like a melodie,
that's sweetly play'd in tune.
As fair thou art, my bonnie lass,
so deep in luve am I,
And I will luve thee still, my dear,
till a' the seas gang dry.
Till a' the seas gang dry, my dear,
and the rocks melt wi' the sun!
And I will luve thee still, my dear,
while the sands of life shall run.
And fare the weel, my only luve!
And fare the well awhile!
And I will come again, my love.
Tho it were ten thousand mile!


Uma rosa vermelha, vermelha

O meu Amor é como uma rosa vermelha, vermelha
Ele é realsado em junho:
O meu Amor é como a melodia,
Ele é docemente tocado em sintonia.

Como tu és justa, minha moça bonita,
Tão profundo no amor eu sou;
E eu vou te amar ainda, minha cara,
Até que muitos mares se sequem.

Até uma seca de muitos mares, minha cara,
E as rochas derreterem com o sol;
E eu vou te amar ainda, minha cara,
Enquanto as areias da vida passarem.

E farei de ti meu único amor!
E farei de ti o meu tempo!
E eu virei outra vez, meu Amor,
Além de 10.000 milhas!


Robert Burns também conhecido como Rabbie Burns foi um poeta Escocês (Alloway Ayrshire, 25 de Janeiro de 1759 - Dumfries, 21 de Julho de 1796). Burns escreveu poemas que prefiguram o romantismo e comédia. Cheias de simplicidade e espontaneidade, as poesias escritas em escocês tinham como tema sua aldeia, a natureza e seus amores.


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

As Ondas

Olavo Bilac

Entre as trêmulas mornas ardentias,
A noite no alto-mar anima as ondas.
Sobem das fundas úmidas Golcondas,
Pérolas vivas, as nereidas frias:

Entrelaçam-se, correm fugidias,
Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,
Vestem as formas alvas e redondas
De algas roxas e glaucas pedrarias.

Coxas de vago ônix, ventres polidos
De alabastro, quadris de argêntea espuma,
Seios de dúbia opala ardem na treva;

E bocas verdes, cheias de gemidos,
Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,
Soluçam beijos vãos que o vento leva...

domingo, 12 de agosto de 2012

The Moment

                                                             Margaret Atwood


The moment when, after many years
of hard work and a long voyage
you stand in the centre of your room,
house, half-acre, square mile, island, country,
knowing at last how you got there,
and say, I own this,

is the same moment when the trees unloose
their soft arms from around you,
the birds take back their language,
the cliffs fissure and collapse,
the air moves back from you like a wave
and you can’t breathe.

No, they whisper. You own nothing.
You were a visitor, time after time
climbing the hill, planting the flag, proclaiming.
We never belonged to you. 
You never found us.
It was always the other way round.


O Momento

O momento quando, após muitos anos
de trabalho duro e uma longa travessia
te encontras no centro do teu quarto,
casa, meio acre, milha quadrada, ilha, país
sabendo por fim como lá chegaste,
e dizes, eu possuo isto,

é o mesmo momento em que as árvores desatam
os seus macios braços em teu redor,
as aves retiram a sua língua,
as falésias fissuram e colapsam,
o ar vem devolvido de ti como uma onda
e tu não consegues respirar.

Não, murmuram eles. Tu não possuis nada.
Tu foste um visitante, uma e outra vez
subindo a colina, cravando a bandeira, proclamando.
Nós nunca te pertencemos.
Tu nunca nos encontraste.
Foi sempre o contrário.

sábado, 11 de agosto de 2012

A Dream Within A Dream

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow-
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand-
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep- while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?

Edgar Allan Poe



Um sonho num sonho

Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.

Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

UM LEMA

YURI HÍCARO


Vamos,
       qual a sua posição?
Reflita,
conjugue o verbo,
aperte o botão...

A minha?
        Legaliza a opção
na democracia,
sem intervenção da polícia,
e toda liberdade de expressão!

A minha,
        quebra barreiras
        e tabus...
Todo dia,
        tolerando hipocresia
dentro de casa e na padaria;

o álcool sobra, o álcool mata!

A minha?
         É contra
         toda forma de tirania
e a programada alienação pela
mídia, da nossa burguesia...

E você?
        Pense, reflita...

Não temos educação,
o trabalho custa caro;
e de quebra,
por causa de um mero baseado,
polícia prende estudante universitário...

A minha,
       é a vanguarda
       sob o tradicional,
o novo,
       beijando a face
       da impermanência universal!


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Indústria do medo

Erick Silva

Eu sou o indivíduo, aquele que chora
de que se explora
Eu sou o indivíduo, padrão...
todo o povão
Eu sou o indivíduo da moral
que te julga marginal
Eu sou o indivíduo que acompanha
com ar fúnebre que me ganha
A política tradicional
alienando a massa em campanha

sábado, 4 de agosto de 2012

Laço de Fita

Castro Alves

Não sabes crianças? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me

Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se

O laço de fita.

Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro

Num laço de fita.

E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,

Ó laço de fita!

Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas

Um laço de fita.

Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...

Teu laço de fita.

Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso

No laço de fita.

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...

Teu laço de fita.

Aprendendo o ABC


Assim teria sido se tivesse acontecido?
O sangue escorrendo num corte do vidro?
A enganosa mancha da mudança
Falsa esperança
Que o corte sarará e a paz reinará
No vidro estilhaçado
Teu sangue impresso,
Marcado.
A dor lancinante que não prova seu valor
De muitos cortes que o rubro sangue não mostra sua cor
Entrecortada na paisagem a cada esquina
É pena ver tantos! Presos com a mesma sina.
E o diabo louco que vos pôs a cortar
Continua solto rindo em seu altar
E assim o vidro que no começo manchou o chão de sangue
Continua a cortar.

terça-feira, 31 de julho de 2012

O plano do malandro

A tática é
Fica na tua jacaré
Quando a vitima chegar
Abra bem a boca para abocanhar

A tática é
Fica na tua mané
Malandro velho tem boca mole
Mas nem todo bagulho engole

A tática é
Ficar esperto e na hora riscar o pé
Não fica de onda a toa
Se não zé, a patroa voa

A tática é
ficar ligado e fugir de mulé
Na hora certa dar a ferroada
E fingir que não foi nada

                      Erick Silva

A carnificina das Bestas

Escuridão untada em silencio profundo,
entre os corpos tugidos descansa o imaterial...
E na lacuna vertical do veio sangrento
Untado está o rugido no peito do leão sarnento.

Já na carne o cerne de tua repugnância
Comprimido entre os gumes da justiça
Leitoso escorre o caldo da arrogância
E na balança bem pago o pudor

Se já não basta que tua boca leprosa me beije os pés
Terei prazer latente enquanto me olhar de viés
E meu lodoso pântano já não terá mais vermes
Porque tua casa está vazia?

A sombra que outrora o silencio comia fura o peito do leão
A dama que segura a balança já não balança
E sua meretrícia dança já não enlouquece pelo que vem da mão

                                                       Erick Silva

Como um romance de Shakespeare

De que modo vil e fatal
se apossa de mim tal desejo carnal

E por um coração atado e retardado
que jaz cativo como um pássaro engaiolado

Aflito e desesperado se fez nascer um magnífico sentimento
que afoga-me como um pântano profundo e lamacento

Por desejar e ver sem tocar
teu sorriso e olhar

deveria por isso esfaquear como Julieta o coração
por querer e não poder por um minuto te amar?

                                                              Erick Silva

domingo, 29 de julho de 2012

Carnaval das Rodas

Que pena ver tantas rodas rodando.
Rodas essas engrenagens, vivas.
Em seu interior tudo é nada, libras.¹
Deviam parar, frear gritando.

O asfalto agora sua borracha está dilacerando.
O calor do atrito faz camadas de arames pungidas.
Mesmo às tiras, nas vias caídas,
Todas em fila continuam rodando.

Oh rodas sois ou não vivas?
Rodas, melhor que fossem capas!
Só assim muito bem seriam preenchidas.

Segue o carnaval das rodas pelas chapas.
Com bandeirolas e crachás, rodas compelidas.
Saiam dos eixos, tornem-se capas!

                                                     Erick Silva





1. unidade de medida de ar:Psi (pound force per square inch) ou libra força por polegada quadrada.

sábado, 21 de julho de 2012

The out way

I just want to say when and if i find my way
That is all for today, did do i a pray?
All for me, you and they
I look in the mirror and see where is my way

Nothing could be worst
Why can't i be the first?
Let's do that gonna work

I can’t look back to be a fool
No one will stomp my skull

In my way i will mold my soul

                             Erick Silva

sexta-feira, 20 de julho de 2012

P A L A V R Ã O

A falta de decoro é um coro
Agudo estridente, indecente...
Agouro rouco de um demente
Arte a qual sou calouro

Rudeza, pra alguns beleza
Repudio fremente com frieza
O indelicado com terrível natureza

Pois assim vá a merda delicadamente
Para que não me achem diferente
E para esse(s) apenas digo: FRANCAMENTE!

                                                  Erick Silva

Ponderando o Sal


Temo por um tempo um pensar tenso, pois penso “penso”.
Mau aceito um mal feito malfazejo de desejo quando o vejo,
Ao chegar ponho-me logo a entrar e não desisto de tentar,
Pois sou “penso”, torto, brinquedo do desejo de tanto amar...

Dou-te na mão como um quente pão de graça meu coração.
De brigas em brigas se erguem as vigas e grudam as ligas...
Pondo os pontos a fim que os contos não caiam pelos cantos
E canto baixinho pelos cantos quantos são os seus encantos.

Hei de ver e de verte tanto quanto viver mesmo querendo morrer?
Que quando sim e quando não e como as ondas vêm e vão,
Um bem me quer e mal em quer de todo dia, uma grade poesia
Onde dança a nuança e mesmo com mudanças seja minha alegria.

                                                                                     Erick Silva

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Das Blut fließt und fließt mit dem Leben
Als Flüsse unauflöslichen, unauslöschlichen
In menschlichem Elend Scham läuft, Gesellschaft
In einer perfekten Welt keine Grenzen gesetzt Krieg
Denn das Leben ist kein Leben? am Leben?
Ich will, Blut zu vergießen, um meine Leistung zu loben
Ich möchte Elend, Hunger und Zwietracht ...
Ich bin der Dämon über Ihre bisher
Wunsch derer, die wollen ...
Ich bin Ihre Regierung und Regierungspartei
Ich bin dein größter Wunsch
aber wer ich wirklich bin?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Um desejo e a controvérsia

Quem come carne todo dia
estranha quando vê ovo no prato.
Pensa: porque não um
acordo, mas um contrato?
É quase sempre bom, às
vezes fico farto...
É, às vezes é estranho, mas
é bom ter um ovo no prato!

                           Erick Silva

domingo, 8 de julho de 2012

GATO

O gato e a cerca...
A meia noite...
O canto...
O miado...
A bota...
O gato está morto.

              Erick Silva

sexta-feira, 23 de março de 2012

O Cisne e a Bailarina

De pele macia, suave e delicada
Dançando pela noite enluarada
Dando ao ar a graça onde voava
E ao passar plumas caídas deixava

Um giro rápido olhando para o lado
Esguio e bonito seu pescoço alongado
Seus braços em arco curvados...
Em sua base dedos sofridos, calejados

Pois na brisa seu voo não se abala
Com força e estética o som lhe embala
Com a lua sua pele brilha, cintila

Em seu lago se reflete seu traço
Sua força desenvolve maravilhoso cada passo

Na fraca luz a bruxulear, seu baile secreto
Um som inexistente nos ouvidos, incerto

Depois do ato fecha-se a cortina
E parte charmoso sobre a colina
O branco cisne da ballerina

Erick Silva

terça-feira, 6 de março de 2012

O doce veneno do bicho


Sou bicho, bicho do mato, e bicho venenoso,
Escondo minhas pérfidas garras de veneno na luz de um menino
As damas eu espreito almejando faze-las verter em seu caldo caudaloso
E com toda inocência chego devagar instilando meu veneno doce e libertino
Sobre o veneno que tenho há um fato curioso!

Como digo, sou bicho, bicho venenoso.
E o veneno que há em mim guardado é de fato tenebroso.
Veio-me a perceber que ao fazê-las verter o veneno é fabuloso.
Transpõe os sentidos chegando à libido calmo e silencioso.
Trazendo a tona o que desde outrora já lhes era desejoso.

E eu como o bicho, o bicho do veneno, o bicho venenoso!
Armo-me de aparência sibilando algo suave e libidinoso
Em tua face púbica deixo-me cair e os dedos passear em teu segredo juncoso
Oh! Deleitar-vos-á de todo meu veneno sucoso
E macula se perdera em seu ímpeto de desejo voluptuoso

Mataras o bicho, o bicho do veneno, bicho mortal e venenoso
Pois a flor que guardavas era também algo venenoso

Erick silva

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Versos Íntimos

Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Devassa

A beleza da praga, a tarde devassa.
Institui-se o veneno lânguido, pavoroso,
Instila-se liso e depressa.
Desde quando amar é tão doloroso?

Doravante nem mais que eu te sinta
E como teu vassalo seja eu por ti infligido.
De teu coração desejo a verdade por mais que me minta,
Mas de tuas palavras vejo a mesma ruindo.

Lembro-me das promessas feitas,
Lembro-me das malas arrumadas,
Lembro-me das metades perfeitas,
Lembro-me também das vidas arruinadas.

E que pensar de um fim sem ponto final?
Não há nada que se pensar...
Não foi um adeus, mas apenas um tchau.
Não há nada que fazer além de esperar...

Erick Silva