Visualizações de página do mês passado

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A Phoenix do vale






A Phoenix do vale
 
O que carrego em alta estima foi transformado em cinzas
As chamas desfiguram as linhas definidas quando crepitam
Queimam e ardem com o impacto de palavras concisas
Sobre cada lamento de vida as línguas de fogo se precipitam

Nada sobra por onde passa o senhor das chamas ardendo
Nem mesmo meus mais íntimos segredos lhe escapam
Meus pássaros que voavam em meio ar foram aos poucos descendo
De suas penas nada restou e seus cantos melodiosos cessaram

E depois do fogo passado as cinzas dançam ao sabor do vento
E um silvo louco ecoa persistente declamando lamentos
Durante a tarde purpura cheia de carvão espalhado no chão

Agora é hora de sair do punhado de cinzas contido na grade mão
É hora de bater as asas de volta rumo ao céu noturno
E romper o silencio imposto pelas sombras do vale taciturno

Erick Silva

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

De um passado



E teu eu a minha vida, e você a tua,
Éramos dois vivendo um tudo ou nada,
à sombra do que nos mata,
E à sorte do que nos cura.
A felicidade nos acompanhava
Mas também havia a noite escura.

Era eu, era você, éramos dois.
Separados pela vida que nos guia,
Repartidos sem saber bem que depois
De um hoje sempre existe um novo dia,
E que diferentemente do que foi
Tão igual o reencontro nos unia.

Não havia razão pra te ter do lado
Mas havia um sentimento adormecido,
Motivado por lembranças do passado,
Por saber que já me tinha pertencido,
Me fez ver que não queria separado
Um nós dois que ao amor se fez sentido.

E então o que passou se fez presente,
Atormentando um sentimento que nos deixa,
Nos permite ser igual e diferente,
Bem melhor e bem pior do que se aceita,
Alimentando uma paixão inconseqüente
De uma visão irracional que não se queixa.

Não há mais o que pensar, não dá pra ver,
O que nos espera o amanhã, se há um nós,
Se o presente já nos fará perceber
Que o passado quis que ficássemos sós,
Ou se brincando o destino faz saber
Que o futuro unirá nossos lençóis.


                                                   Talita Maciel

sábado, 15 de setembro de 2012

A Orquídea negra

Quero ver o sangue escorrer pelo ódio de delírio vindo do imperfeito amor
quero ver na rubra cor o lamento das pobres almas inocentes e clamor
quero ver verter gota a gota nas lágrimas de uma garota rouca
quero ver os gritos e lamúrias aos soluços nascerem em sua boca

Cada fio do seu cabelo negro descontente
pela caça abatida na calçada. entrementes
tudo ao seu redor torna-se vermelho para sempre
suas mãos trêmulas seguram a pendente

Seus lamentos não encontram o céu
foi quando parou e pôs sobre sua face o vel
em sua boca agora amarga com sabor de fel

todos os seus beijos, suas carícias, seu amor
agora se agregam num incrível torpor
Num céu sem deus, sem fim, sem cor

Erick Silva

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

VERBO SER

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

Carlos Drummond de Andrade

Viagem

Já é tarde, mas não tão tarde



Já está muito tarde, mas não é tão tarde assim



O quão tarde será?



É tarde a tarde



Mas a tarde acaba



A tarde acaba e dorme



A noite chega



É à noite que as coisa acontecem