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terça-feira, 20 de maio de 2014

Segura criatura

Aquela sombria criatura que me assola com usura rastejando na surdina sibilando a cada esquina. É um monstro peçonhento, um maestro sedento arquitetando por segundo seu peculato imundo. Que doce minha alma carrega, para que fosse sem calma, sem regra? Me consumindo tal monstro me põe sumindo em meio a escuridão, sem lugar meu coração já enraizado que agora enfurecido e desvairado, não vê sentido em estar guardado. Oh criatura, tu que minha face desfigura, fostes tu mandada ou nascestes de minha mente impura? Se fostes tu amada me prendendo em tal altura, porque que agora sede meu laço de soltura?

domingo, 23 de março de 2014

Morte, Juízo, Inferno e Paraíso

Em que estado, meu bem, por ti me vejo, 
Em que estado infeliz, penoso e duro!
Delido o coração de um fogo impuro,
Meus pesados grilhões adoro e beijo.

Quando te logro mais, mais te desejo;
Quando te encontro mais, mais te procuro;
Quando mo juras mais, menos seguro
Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.

Assim passo, assim vivo, assim meus fados
Me desarreigam d'alma a paz e o riso,
Sendo só meu sustento os meus cuidados;

E, de todo apagada a luz do siso,
Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados
Morte, Juízo, Inferno e Paraíso.

Bocage, in 'Sonetos'



quarta-feira, 19 de março de 2014

Mas Há a Vida

"Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.

Que tem que ser vivido
até a ultima gota.
Sem nenhum medo.
Não mata."

Clarice Lispector

terça-feira, 4 de março de 2014

Via de transmissão

Sufoca teu ego no ópio da alma
para que se tenha um espasmo de calma
que é deus que lhe causa usura
tanto mais a quem o coloque em tal altura

A tua lei é um laço de forca
a tua lei é um braço de força
teu ensino é treinamento de escravo
teu ensino é da injuria o agravo

Conjura sobre si tuas palavras mágicas
encena teu teatro, ensina suas táticas
porque és tu sagrado e a obra divina
e penetras a mente como morfina

Não irá perverter-me com teu ópio
não me vencerá nesse argumento ébrio
então cala a cabala e segue sem cessar
segue sego para o "fim" do meu pesar

Sego não guia caolho em terra que saber é rei
então segue e engula sozinho a hierarquia da tua lei

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O que viveu mais meia hora - Carlos Drummond de ANDRADE



Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Tens para mim palavras de conforto, Tão doces são elas. Me afogo na ternura de seus beijos, São eles suaves como uma borboleta pousando numa flor qualquer, porém trêmulos.

Em dias de tormenta só sua presença me acalma. Há momentos em que o mundo some, só restando nós dois, o que é suficiente para mim. O som da sua voz é um tipo de êxtase, invade meus ouvidos como as ondas na areia da praia.

Não me abandones que não te abandonarei. Cultive esse amor que plantamos, só assim ele florescerá. Me ame incondicionalmente que te amarei bem mais do que possa imaginar.

Natallia Oliveira


domingo, 24 de novembro de 2013

Oleiro

Quando és tu escravo de si mesmo e como vaso esmo, jogado ao chão em migalhas fadado, então, as falhas! É que num sóbrio delírio de equilibrar-se, teu ébrio destino viera a conspurcar-te, e uma magoa cinzenta afaga teu coração, uma nodoa que afugenta e apaga teu quinhão. Queria lavar-te a alma, que tremia, afagar-te com toda calma e sentir-te! Se sois vós entre cacos o barro, pois, no ventre das mão entre os nós te agarro e de caco em caco te construo em novo jarro!

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Amigo do tempo

Tempo, faço um acordo contigo, e antes que me leve embora, torna-se tu meu abrigo? Serei de ti escravo fiel, tanto que me adocem a boca ou que me arda em fel. Prometo lhe deixar para trás o que por ti foi tomado e esperar o porvir que por ti é guardado. Lhe peço na angustia: se passe como vento e na alegria como infindo momento. Vos guardarei em memoria uma linha da história de vida que fizeste minha. Que o momento de agora tu leves embora para que amanhã quando a noite der hora, meu doce momento tarde a passar venerando uma flor ao luar. Tempo, tempo, tempo, sê-de contudo ainda promiscuo, vos mistura a imensidão do vácuo e quanto mais me agarro a ti mais me vejo que parto e mesmo de tua usura estando farto eis a proposta que faço a ti: contenta-me enquanto aqui e quando vier meu suspiro apagar irei contigo sem nada reclamar.

Erick Silva